Barão de Limeira, 425. Selfie-se quem puder!

29/06/2018

Tô em Sampa distribuindo entre jornalistas OUTROS PLANOS, meu disco novo – e hoje viajei no tempo.

Barão de Limeira, 425. Selfie-se quem puder!

Tava em Pinheiros e sem querer refiz um trajeto que foi meu caminho de todo o dia durante os dois anos em que trabalhei como repórter na Folha de SP. Subi a Teodoro , desci a Consolação, segui pela Rego Feitas, depois Duque de Caxias, quebrei à esquerda na Barão de Limeira e quando cheguei no 425 bateu uma estranha souldade, cai direto naquela redação maluca que em 1978 era o epicentro da redemocratização --- ou a construção desse democracia que temos hoje.

Eu tinha 20 anos, uma filha recém nascida e essa paixão pelo jornalismo que ainda hoje me faz andar pelas ruas enxergando pautas pra todo o lado. Na mesa onde eu sentava, do meu lado direito ficava o Samuel Wainer e o Plinio Marcos e à esquerda Lourenço Diaféria (eu estava lá no dia em que o Exército invadiu a redação pra prender o Diaféria, que tinha escrito uma crônica comentando que os passarinhos cagavam na estátua do Duque de Caxias na praça ali pertinho da redação).

Aquilo era um concerto por dia e o maestro, Cláudio Abramo, passava toda a hora por ali, terno branco, elegância total, padrão Gay Talese. Tinha o Tarso de Castro fazendo comentários sempre humorados e geniais (nunca esqueço ele dizendo que o Caderno de Cultura do Estadão era uma dissidência do Caderno Agrícola), fora meu cúmplice Palmério Dória e meus dois editores referência pra vida toda: Zé Trajano e Hamilton Almeida Filho, o HAF, que foi quem me levou pro jornal.

Ali convivi com o Odilon, ultimo cronista de turfe da imprensa brasileira (claro, ferrado no jogo, deixava o salario com os cavalinhos do Jockey Clube). Nessa época cansei de copidescar aqueles textos enormes que o Paulo Francis mandava de Nova Iorque e ali, quando ia trabalhar muito cedo, assistia aos shows do Tavares de Miranda, acho que o último espécime da fauna de cronistas de ricos ociosos; ele chegava na redação direto das festas, bebaço, miando, dando esporro em todo o mundo: fotógrafo, diagramador, faxineiro.

Deixei um monte de discos com a turma do jornal. Na volta, procurando caminho, fui parar onde? Avenida Angélica, é claro - mas entre a Augusta e a Angélica eu encontrei a Consolação mas essa é uma outra história.